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??????                                   Editorial                ??????                               R
                                                                                                                E
                                                                                                                V
                                                                                                                 I
                                                                                                                S
                                                                                                                T
            A CRISE E A REDE DE ENSINO SUPERIOR                                                                 A


                              PÚBLICO EM PORTUGAL                                                               D
                                                                                                                E
                                                                                                                C
                                                                                                                O
                                                                                                                N
                                                                                                                T
                                                                                       Carlos Baptista da Costa  A
                                                                                             Director da RCF
                                                                                                                B
                                                                                                                 I
           Ao longo dos últimos meses todos temos vindo a sentir, em maior ou menor grau, a grave crise econó-  L
         mica e financeira que nos afecta, o que levou, aliás, os dois mais altos responsáveis políticos a escolherem  I
         as expressões “insustentável” e “de dificuldade” para qualificarem a actual situação em que o nosso país se  D
         encontra.                                                                                              A
                                                                                                                D
           De uma maneira geral, os macroeconomistas entendem que a possível solução para debelar esta realidade  E
         passa, entre outras soluções, por aumentar os impostos e/ou reduzir a despesa pública. E, embora algumas
         medidas já tenham sido tomadas, há quem afirme que as mesmas foram “tardias, mal apresentadas e insufi-  E
         cientes” sendo pois imperioso “atacar o despesismo inaceitável do Estado, das autarquias e das regiões au-
         tónomas”.                                                                                              F
                                                                                                                 I
           Na edição da RCF correspondente ao último trimestre de 2003, época em que a crise então existente não  N
         era minimamente comparável à actual, escrevemos um editorial em que questionávamos se fazia sentido o en-  A
         sino superior estar repartido em dois subsistemas: o universitário e o politécnico.                    N
                                                                                                                Ç
           A recente opinião do antigo Presidente da República, Dr. Mário Soares, que perfilhamos inteiramente, de  A
         que se deve “atacar o despesismo” levou-nos a reler o referido editorial e a obter alguns dados actuais sobre  S
         o ensino superior público no nosso país.
           Assim, verificámos que em Portugal existem, nada mais nada menos, do que 14 Universidades, 1 Instituto  N.º
         Universitário, 15 Institutos Politécnicos, 5 Escolas Politécnicas não integradas e 5 Escolas de Ensino Supe-  101
         rior Militar e Policial, sendo que 50% das Universidades oferecem cursos universitários e politécnicos.
           A nível da dispersão geográfica, há universidades em 9 dos 18 distritos e nas 2 Regiões Autónomas. Por
         seu lado, 9 dos 15 Politécnicos têm também pólos em localidades diferentes das capitais de distrito que lhes
         dão o nome, havendo mesmo 1 distrito onde há 2 Politécnicos (Santarém e Tomar). E em 4 distritos onde há
         Universidades também há Politécnicos e/ou Escolas Politécnicas. Por exemplo, na grande Lisboa existem 4
         Universidades (Lisboa, Técnica, Nova e Aberta), 1 Instituto Universitário (ISCTE), 1 Politécnico e 3 Esco-
         las Politécnicas (Enfermagem, Náutica e Hotelaria e Turismo), ou seja, um total de 9 instituições, além das  3
         de ensino militar e policial.
           Considerando o exposto, somos levados a questionar se faz algum sentido que em Portugal haja uma ins-
         tituição de ensino superior público por cada 250 000 habitantes. E se, face à reduzida superfície do país, é
         justificável que haja estabelecimentos de ensino superior público em mais de 40 localidades.
           Por outro lado, aceitando como inevitáveis os casos das Regiões Autónomas, verifica-se que há Univer-
         sidades e Politécnicos com um número insuficiente de estudantes para que sejam economicamente viáveis.
                                                                                                                A
         Numa época em que, a nível do primeiro ciclo do ensino básico (frequentado por crianças com menos de 10
                                                                                                                b
         anos de idade), se fecham tantas escolas com poucos alunos não seria muito mais razoável que a mesma po-  r
         lítica fosse adoptada no ensino superior? Naturalmente que a resposta seria afirmativa se houvesse a cora-  i
         gem política suficiente para beliscar os muitos e diversos interesses instalados. Mas não há!           l
           Verificando-se ainda que há 7 Universidades que oferecem cursos universitários e politécnicos pergunta-
                                                                                                                /
         -se por que razão não se acaba, de uma vez por todas, com o actual sistema binário e se procede às indis-
         pensáveis e urgentes integrações?
                                                                                                                 J
           De facto, não se compreende o motivo pelo qual o Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior se  u
         opôs de forma tão obstinada à concretização do projecto de fusão proposto pela Universidade de Lisboa e  n
         pelo Politécnico de Lisboa, que os seus responsáveis tentaram concretizar há algum tempo atrás.        h
           Face ao descrito, corroboramos integralmente as palavras recentemente proferidas pelo Professor Antó-  o
         nio Nóvoa, reitor da Universidade de Lisboa, ao defender que “a solução passa pela agregação das univer-
                                                                                                                2
         sidades e politécnicos de uma mesma região...”.                                                        0
           Em conclusão, esperemos que quem de direito contribua para a redução do despesismo que grassa no     1
         nosso país, implementando rapidamente uma adequada racionalização da rede de ensino superior público.  0
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